12 de mar. de 2012

Reflexão sobre Mantras: Por que Sânscrito?

Por Bruno Bartulitch (publicado originalmente em www.yogasp.com.br )

Continuando a reflexão da semana passada: Por que os mantras são feitos em sânscrito?
Lembro-me de ter participado, a título de investigação experiencial, de um retiro budista sob os auspícios de Chagdud Rinponche em 2001, em Florianópolis.

Percebi que haviam mantras em tibetano e mantras em sânscrito. Quando tive a oportunidade, perguntei pessoalmente ao Tulku, porque fazer mantras em línguas estrangeiras e não em português, uma vez que eu não entendia nada de sânscrito, nem de tibetano…


Ele explicou que os primeiros mantras foram escritos em sânscrito e que após muitas gerações de praticantes tibetanos dedicados, começaram a surgir mantras em tibetano. O mesmo podia acontecer no Brasil. Talvez após muitas gerações de praticantes brasileiros dedicados, alguns mantras em português surgissem.

A resposta me foi muito interessante, mas minha curiosidade sobre a necessidade de se fazer mantras em sânscrito não tinha acabado.

A tradição yogi indica que o sânscrito foi uma língua criada pelos rishis, os sábios yogis do passado. Ou seja, uma língua artifícial, concebida especialmente para a expressão dos complexos conceitos e para a vocalização de mantras.

O som, assim como as cores, influenciam as emoções. O sânscrito seria uma língua em que a pronúncia correta e a utilização adequada de todo o aparato fonético que possuimos (garganta, língua, dentes, lábios e nariz) produziria sons e vibrações que incidiriam positivamente sobre nosso corpo físico e glândulas, de maneira a facilitar a plena saúde e os estados meditativos.

Diferentemente, portanto, de uma língua natural cuja função é a comunicação, a língua dos sábios tem a função principal de produzir sons e vibrações auspiciosas.Diria ainda, que além da vibração que massageia algumas glândulas fundamentais que conduzem o yogin à um estado de tranquilidade e interiorização, o ato de vocalizar os mantras complexos treina sua mente à um nível de concentração elevado. A capacidade de concentração elevada é requisito para a meditação. Sem elevada capacidade de concentração, a mente não tem habilidade para entrar em meditação.

Após alguns anos estudando yoga, percebo que acaba sendo importante ao menos noções básicas de sânscrito, não só para vocalizarmos corretamente os mantras e para compreendermos seu significado, mas também para tomarmos contato com diversos conceitos da “psicologia yogi” que foram formulados na língua dos sábios e que muitas vezes não tem fácil tradução em nenhuma língua moderna. Palavras como Shanti (paz), Ananda (bem-aventurança), Moksha (liberação) e Samadhi (iluminação) por exemplo, possuem uma tradução, digamos aceitável. Mas conceitos como Dharma, Ahamkara, Samskara, Budhi e Vasana entre outros, ficam muito mal representados se traduzidos apenas como: lei universal, ego, tendências, intelecto e condicionamentos. Vale a pena também um professor com bom conhecimento e didática, que consiga bem explicar e apresentar estes tão úteis conceitos e outros. Os conceitos, valores e técnicas yogis tem muito a contribuir para o bem estar do indivíduo e da coletividade.

Curiosidades: devanagri, o nome da belíssima escrita do sânscrito significa: “escrita dos deuses” e a palavra sânscrito: “culto”, “refinado” ou “sofisticado”.