Por Vanessa Malagó
A mão desliza sobre o
papel. É precisa. Não hesita. As palavras saem, jorram num fluxo intermitente.
Vêm em atropelo, como que desordenadas, desconexas, mas ocupam seu devido lugar.
Nessa aparente turbulência, seguem um ritmo próprio. Saem melodiosas, estão
vivas, quentes, pulsantes. “Sente-se um estilhaço e não se sabe onde é: é assim
que tem que ser a alegria: não se deve saber por que, deve-se sentir assim:
‘mas que é que eu tenho?’ – e não saber.”Começo com as palavras
de Clarice Lispector, que ainda em minha adolescência, fizeram vibrar em mim algo ainda desconhecido, que não podia nomear.
Anos mais tarde, no meu
contato com o yoga, despontaram palavras como samadhi, transcendência, iluminação. Numa perspectiva concreta e
racional do mundo, aquilo me parecia misterioso, distante. Nos meus primeiros
anos de estudo sobre o yoga, um amigo me perguntou: Pra
que você pratica yoga? Você acredita mesmo na auto-realização? E, ainda mais
enfático, você pratica yoga buscando a iluminação? No momento, eu me lembro de
ter respondido: Não sei. Mas a resposta não importou e sim a pergunta, que
ficou ecoando durante anos e ainda reverbera.