16 de jan. de 2015

Na Prática

O que é preciso ser para fazer Yoga
Por Marê Del Gaudio* 

Já evoluímos muito como humanidade, mas ainda temos a tendência de nos fecharmos em nossos próprios “pré-conceitos e manias” e muitas vezes acabamos indo além dos nossos próprios limites. Entāo, o exercício é observar se na hora de fazermos Yoga conseguimos mudar alguns padrões de pensamento que nos acompanham desde quando éramos crianças. Como, por exemplo, a ideia de que temos que ser sempre os melhores. Quando “na prática” da vida o mais importante é sermos FELIZES. E não, MELHORES. A imposição de sermos melhores nos leva automaticamente a comparação com o outro. O que nos distancia tanto do outro quanto de nós mesmos; podendo ainda causar ansiedade e uma personalidade competitiva e nāo compassiva. Na prática ninguém é melhor do que ninguém. Somos únicos e juntos formamos o todo. Lembrando que Yoga é união. É a integração de nossos opostos e também do indivíduo com o todo.

Se “temos que ser algo” que seja a melhor versão de nós mesmos. Deixar nosso brilho iluminar naturalmente nossas vidas e de todos os que convivem conosco. E o que somos nós se não seres que trazem em cada célula do corpo um pedacinho do Divino?! Refiro-me ao conceito individual de Divino porque estamos falando de uma filosofia de vida e não de uma religião. O Yoga é uma filosofia que ‘aos poucos’ vai nos abrindo para que possamos perceber que já somos todos seres perfeitos; mesmo com o que identificamos como imperfeições.

Por isso, durante a prática é muito importante investigar com calma para aprender a ouvir o que está sendo sugerido e somar ao que o seu corpo está dizendo. Quais são suas limitações naquele dia? E como você se sente dentro do seu corpo, da sua morada? Para fazer Yoga só é preciso ser você mesmo. E praticar. O entendimento que vem do suor de cada prática desperta o estado de Yoga de uma forma lúdica. Menos mental e mais “celular”. Como dizia o mestre do Ashtanga Vinyasa Yoga, Sri K. Patabhi Jois: “Pratique e tudo vem”.

Parar e simplesmente receber. Confiar é também estar aberto para experimentar todas as possíveis variações de postura. Ouvir e entender as adaptações fará com que você se conheça ainda mais, aprofundando o estudo sobre si mesmo. Essa é uma prática que nunca termina. E é somente ao desenvolver o “hábito da prática” que você saberá o que é melhor para o seu corpo e para seu momento.

Não tenha pressa em entender tudo na primeira aula ou no primeiro mês. Ou ainda, no primeiro ano. Muito menos tenha alguma posição x como sua meta final aqui. Lembre-se de que estamos falando de uma técnica milenar onde o legado deixado beira o infinito. Aproveite e deixe sua mente registrar que YOGA É PROCESSO. É hora de aprender a respirar e isso quer dizer: desacelerar. Algo que nossa mente nāo está muito acostumada. Como ainda não inventaram um aplicativo para acelerar o seu processo de autoconhecimento para desenvolver uma prática de Yoga consciente que mantenha o corpo saudável até os 108 anos, é preciso em primeiro lugar ter paciência. Saber ouvir, aceitar e confiar.

Minha grande lição como praticante foi aprender a apreciar mais a trajetória do que o ponto de chegada. É um exercício de desconstruir a “postura atual” para reconstruir uma versão mais “alinhada” daquilo que já se é. O resultado desse compromisso NA PRÁTICA é uma mente mais iluminada, um corpo mais saudável e até uma convivência mais harmoniosa com todos que nos cercam.

Falando em desconstrução, a próxima vez que for praticar, ou for começar a praticar, experimente trocar a palavra ‘meta’ por ‘intenção’. Em vez de ficar com a ideia fixa em uma determinada postura, experimente mentalizar uma intenção para aquele momento. Observe sua respiraçāo num ritmo mais natural. Alguns minutos serão suficientes para escutar o seu coração. Qual o desejo do seu coração para aqueles próximos minutos de prática?

É surpreendente como pensar na intenção já é a primeira “chavinha da mudança” que podemos acionar em nossas mentes. Uma forma de reprogramar a palavra força por leveza.  Quem sabe assim entendemos que é preciso silenciar para acalmar a mente e deixar nascer a nossa própria luz. A nossa consciência. Na prática.


Marê é professora de yoga e coordena o Studio Terra, em Alphaville, SP.